Foram tempos que deixaram saudades. Tempos simples, de pés no chinelo, de nadar no açude, de roça, de terra molhada pela chuva, de banho na chuva, de namoro no escuro, de dançar agarradinho, de noites nos braços das putas que davam por dinheiro e mais ainda por amor.
Era a juventude que parecia eterna. Juventude que jamais envelheceria ou morreria. A vida era um eterno cantar, dançar e farrear.
Hoje os vultos do passado aparecem pela retina da saudade. Lá estão os assustados no Bar de Bartolomeu, as serenatas ao luar, ao som do cavaquinho de Zé Birrim ou do sax de Manoel Marrocos.
O Açude Velho era a praia. A meninada tibungava na Pedra Grande, na Pixilinga, no paredão. O Açude Velho que Padre Ibiapina salvou do arrombamento num tempo mais antigo e que, no tempo que chegou depois, foi transformado no depósito das fossas da cidade pelas mãos de um prefeito irresponsável, e assim mantido pelas mãos mais irresponsáveis ainda dos prefeitos que o sucederam.
Princesa era uma linda cidade. A sua principal avenida, chamada de Rua Grande, era toda formada por casas em estilo colonial, dentre as quais se destacavam três belos sobrados e uma mansão que tinha as paredes cobertas com azulejos portugueses.
A padaria de Rafael Rosas ficava em frente à Prefeitura. Subindo dali em direção à velha igreja, destacavam-se a loja de Ferreirão, o Forum onde Nezinho Francelino fazia duetos poéticos com João Rodrigues, depois de beber umas lapadas na bodega de Adauto, que ficava em frente; a casa de Seu Ananias, que era também hotel, mais adiante a de Antonio Carlos, pegada com as de Zé Sabe Tudo, Parajara, Hermes Maia, até chegar ao famoso sótão de Manezim Pereira fazendo parelha com os sobrados de Antonio Maia e de Aderbal, já perto do Cine Santa Maria dos frades carmelitas, que moravam ao lado no Convento São José. Em frente ao sobrado de Antonio Maia havia uma casa enorme, recuada, protegida por enorme portão de ferro, onde morava Seu Inácio fotógrafo. Na outra esquina, debruçava-se na janela a saudosa Jandira Góes à espera do filho José, que vinha dos Correios, onde trabalhava. Japonês tinha armazém e residência, ao lado dele Elizeu Patriota fazia a mesma coisa. Mais na frente, destacava-se a casa de Gastão Cardoso, linda, suntuosa, cheia de janelas.
E o hotel de Dona Hosana oferecia doce de leite cortado com suspiros de clara de ovos bem ao lado da Loja de Zé Pires, que fazia cumeeira com o Bar de João França, local de reunião dos notívagos da cidade.
A Igreja de três torres e vários altares vigiava a rua, ou melhor, todas as ruas que dela desembocavam, pois tinha três torres exatamente para isso.
Quase tudo isso foi demolido. Derrubaram para construir lojas e supermercados. Nem a igreja escapou.
7 Comentários
Saudosismo romântico e besta. Princesa não é só a rua Grande, rua Nova, e outras centrais, onde desde muito, resta muito pouco dos velhos casarões dos anos 30. Falta dizer dos bairros feios, pobres, desorganizados, sem calçamento, sem esgoto, sem água, sem estilo. E um povo pobre, de recursos e de espírito, que elege péssimos políticos em troca de dinheiro e vantagens!
Princesa: ame-a e vá morar em Bananeiras!
Ainda bem que não sou obrigado a lhe obedecer
Tião, cabra velho de boa memória ! Botou pra lascar. Apenas acrescentaria a Farmácia de Edezel, onde tomei muita Bezetacil.
Descreveu com destreza e maestria! Como bom sertanejo que sou, não poderia deixar de parabeniza-lo.Pricesa é História e você retratada isso como ninguém! Parabéns!
Descreveu com destreza e maestria! Como bom sertanejo que sou, não poderia deixar de parabeniza-lo.Pricesa é História e você retratada isso como ninguém.Abraço
A imagem mostrada na foto é da cidade de Princesa? Se sim, de qual década?
Por favor, mostra uma foto recente do mesmo local. Tipo um Antes/Depois.
Sebastião, desse jeito você perde a credibilidsde. Nasci e vivo em Princesa Isabel. Essa rua com esses casarões não são de Princesa !! Deixa de onde forasteiro !!
Você nasceu e ainda mora na rua do cabaré. Por isso não conhece o restante